terça-feira, 12 de janeiro de 2010

"Preciso tanto dizer-te agora as coisas que guardo comigo. Tanta coisa reprimida, talvez coisas pesadas, palavras que não agüento em mim, que não consigo carregar – que não quero mais carregar.

Não quero que penses que sou fraco, que não me agüento comigo e com essas palavras ditas num domingo sem luz. Não tem nada a ver com agüentar, com conseguir. É coisa de querer mesmo. Eu não queria mais me ver sozinho agüentando todo o peso, não queria te por em risco. Porque hora ou outra ia ceder, tu sabe que ia ceder. E não quero que me digam agora que fui fraco, que eu devia ter tentando. Não fico mais pra ver o fim do show, não espero mais o último pilar ceder pra ver toda a estrutura cair. Inclusive acho essa atitude que tomo agora de abrir mão do peso, de conseguir se soltar sem se preocupar, mais difícil do que a atitude antiga de me prender a tudo com facilidade imensa.

É difícil deixar pra trás.

É difícil mesmo não olhar pra trás, partir inteiro

Mas é que Chovia constantemente naqueles dias, a chuva e o vento tentavam incessantemente levar embora uma sujeira que vinha se impregnando há tempos na rua, nas paredes, nos telhados, na minha epiderme, naquela cidade que ia se apagando a cada dia diante dos meus olhos e que ia se enchendo de cinzas, cinzeiro transbordando de nada, do mais puro nada, em vão, como aquela vida que vinha vivendo, vida cinza. Aí eu acordei e pensei que talvez não devesse ser assim, realmente não devia ser assim.

Não quero mais o vazio das vidas cinzas e nulas, quero antes as c(d)ores e a alegria de uma poesia sem rima." [André Luiz]

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