domingo, 22 de maio de 2011

Não te tocar, não pedir um abraço, não pedir ajuda, não dizer que estou ferido, que quase morri, não dizer nada, fechar os olhos, ouvir o barulho do mar, fingindo dormir, que tudo está bem, os hematomas no plexo solar, o coração rasgado, tudo bem.
Dele.
Andei amando loucamente, como há muito tempo não acontecia. De repente a coisa começou a desacontecer. Bebi, chorei, ouvi Maria Bethânia, fumei demais, tive insônia e excesso de sono, falta de apetite e apetite em excesso, vaguei pelas madrugadas, escrevi poemas (juro). Agora está passando: um band-aid no coração, um sorriso nos lábios – e tudo bem. Ou: que se há de fazer?

Do Caio
Em caso de dor, ponha gelo. Mude o corte do cabelo. Mude como modelo.
Vá ao cinema, dê um sorriso. Ainda que amarelo. Esqueça seu cotovelo.
Se amargo for já ter sido. Troque já este vestido. Troque o padrão do tecido.

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Saia do sério, deixe os critérios. Siga todos os sentidos. Faça fazer sentido.
A cada milágrimas sai um milagre.
Em caso de tristeza vire a mesa. Coma só a sobremesa. Coma somente a cereja.
Jogue para cima, faça cena. Cante as rimas de um poema. Sofra apenas, viva apenas.

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Sendo só fissura, ou loucura. Quem sabe casando cura. Ninguém sabe o que procura.
Faça uma novena, reze um terço. Caia fora do contexto, invente seu endereço.
A cada milágrimas sai um milagre.

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Mas se apesar de banal. Chorar for inevitável. Sinta o gosto do sal.
Sinta o gosto do sal. Gota a gota, uma a uma. Duas, três, dez, cem mil lágrimas, sinta o milagre.
A cada milágrimas sai um milagre.”



Itamar Assumpção e Alice Ruiz
Sei o que é perder um amor quando ainda se precisa dele. Já estiquei todas as pontas dos dedos para trazê-lo de volta, não alcancei mais. Minhas aspirações davam a entender que a parte dos dias que me caberia viver não passaria de histórias que talvez nunca chegassem a se completar, nem mesmo no papel.
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Não tenho a oferecer nada além de um coração cortado, costurado e sem uma moldura traçada para sustentá-lo no ateliê de minhas esperanças. E não há nada que me faça deixar de sentir, mesmo tendo entregado cada folha ao barulho das tesouras. É com tristeza que vejo esvoaçar cada página de um sentimento meu. Elas pousam serenas num pisoteado chão de festa, que, apesar de ter amanhecido, não encontrou seu final.
Enquanto escrevo, fico olhando nossas fotografias tentando imaginar se ainda se lembra de nós. Toco o seu rosto com as mãos e o baú se fecha, guardando-nos num momento que não é mais o nosso. Fomos deixados sobre um tempo em que tudo enferruja, a começar pelos sonhos e a terminar pelo coração. Apenas minha caneta nos memoriza.
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Recordarei, algum dia, o amor que vivemos. Talvez com outra caneta, que não a dessa história que já não nos pertence. Quero me lembrar de quem eu teria sido se tivesse ficado com você. E vou rabiscá-lo neste papel até que a tinta seque e nossas cores não se misturem mais
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Pipa

sábado, 21 de maio de 2011

"Desde o momento em que a criatura amada desaparece, o difícil é penetrar na ausência que se forma, essa ausência que se faz, às vezes na própria presença da pessoa amada e que envolve tudo na atmosfera nublada de melancolia e sofrimento. Atmosfera nublada que vai aos poucos se apoderando dessas horas que dias antes tinham palpitado de uma vida tão intensa - hoje, poesia, sonho, tristeza, minutos espessos que se arrastam no vazio, sem que possamos jamais encontrar de novo a mesma vitalidade onde descansávamos os nossos lábios doentes de uma sede insaciável... Horas sem luz, onde nossas mãos tateiam na penumbra, no pobre esforço de deter ainda um pouco de calor e da alegria desaparecida - ah! como sabem crescer e se tornar pesados esses momentos, cheios de lembranças desses laços que se atam e se desatam no silêncio, como se confundissem, na memória atribulada, o gosto do passado com a sombra sem perfume do presente..."

(Lúcio Cardoso)

sábado, 7 de maio de 2011


O passo perdido. O mau passo. O passo certo. Os passos que passam perdidos por nós. Tropeços, quedas. Tantos andares. Tantos jeitos diferentes e sempre um mesmo passo. Um e somente depois, o outro. Isso deve ter algum significado: não tem como acertar o passo sem que seja um de cada vez. De onde surgem os descompassos. Vontade de voar faz com que troquemos os pés pelas mãos. Às vezes, as mãos pelos pés. Tanta gente andando de um lado para o outro, e cada andar falando com uma linguagem diferente. Um torre de Babel dos passos, onde se esbarram passos lentos com passos apressados, passos tímidos com muito seguros passos, garbosos, desajeitados, uns quase passam sem serem notados. O que seus passos dizem sobre você? Os meus são puro acaso. Não são planejados, são o resultado de uma matemática tosca onde a soma das cotidianices define o ritmo. Não sou dona dos meus passos. Sou daquelas que fica na janela olhando, com os pés martelando no chão o ritmo que gostariam de dançar. Ah! aqueles seres que parecem dançar tanta é a graça dos seus passos. Gosto de olhar a segurança de passos que sabem exatamente para onde vão. Passos de um bailado denso, talvez de algum tango sensual e caliente, onde todas as qualidades caminham rumo à paixão. Passos que sentem prazer em serem dados. Passos determinantes São pura perfeição da anatomia. Passos certos têm cadência. Outros, infelizmente, decadência. Meus passos são de barata tonta condicionada em cativeiro, e poderiam entrar na categora comicidade, talvez, pela falta de graça, que graciosamente tento fazer parecer que eles têm. Os meus passos. Muitos foram deixados para trás, sem sequer saberem que poderiam ter sido dados. Outros, ladram como cão sem dono perdidos em passados longinquos. E guardo alguns passos que caminham nas nuvens, pelos corredores dos sonhos, e nos dias de muita sorte, quando tenho sonhos bons, meus passos viram nado. Nadam num imenso mar azul turquesa, sentem leveza, são pura delicadeza, livres de amarras, calos e apertos, eles me dão a certeza que meus melhores passos eu dou no território oceânico das liberdades, lugar que só alcanço em certas noites de lua cheia rumo aos lábios quentes de uma noite de verão.






[Toda hora é hora de se dar um bom passo]